Cooperativismo cresce no Brasil e setor agropecuário tem representatividade forte dentro do movimento
Responsáveis por movimentar quase R$ 700 bilhões no ano de 2023, as cooperativas são um dos motores da economia brasileira e se caracterizam por um modelo coletivo. No Brasil, a entidade que representa e dá voz aos anseios frente aos poderes é a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
O Agro Estadão conversou com o coordenador do ramo Agro na OCB, João Prieto, para saber como operam as cooperativas, principalmente, as agropecuárias. Somente em 2023, essas organizações coletivas ligadas ao Agro distribuíram R$ 20,4 bilhões aos cooperados.
O que são as cooperativas?
Prieto resume as cooperativas como um “modelo de negócios coletivo”. Basicamente, é a união de pessoas, como produtores rurais, que tem um objetivo em comum. Essas pessoas se organizam em torno de uma figura jurídica – cooperativas – e buscam o bem-estar dos cooperados, ou seja, um bem coletivo.
Como explica o especialista, isso acontece porque as pessoas, no caso os cooperados, entendem que um determinado serviço ou trabalho ganha mais robustez quando feito em conjunto. Por exemplo, um produtor de leite poderia vender individualmente seu produto para um laticínio, porém ele pode conseguir negociar melhor se participar de uma cooperativa gerindo um produto com maior escala, aumentando o poder de barganha.
O cooperativismo tem sete princípios fundamentais:
- Adesão livre e voluntária;
- Participação econômica dos membros;
- Educação, formação e informação;
- Interesse pela comunidade;
- Gestão democrática;
- Autonomia e independência;
- Intercooperação.
Quais as diferenças entre cooperativas e empresas?
A diferença principal está no modelo de negócio. Uma empresa pode ter um ou mais donos, já nas cooperativas, cada cooperado é um dono do negócio. A partir disso, surgem as outras distinções.
Poder de decisão: os cooperados têm igual poder de decisão. Por exemplo, cada integrante tem um voto nas assembleias gerais ordinárias, independente do nível de participação dentro da cooperativa. Em uma empresa, mesmo com vários acionistas, o poder de decisão é dividido de acordo com a proporcionalidade de participação;
Sobras: em um paralelo com o modelo convencional, o lucro das cooperativas seria o que se chama de sobras. Nas empresas, o objetivo final é gerar lucros, o que nas cooperativas nem sempre ocorre, já que há outras necessidades que podem importar mais para aquele coletivo. Além disso, quando há divisão das sobras, elas obedecem uma proporcionalidade de interação com a cooperativa e não a quantidade de recursos aportados pelo cooperado. Quem se envolveu mais com o coletivo, recebe mais.
Olhar para a perenidade do cooperado: como o objetivo final não é o lucro, muitas cooperativas se constituem para garantir, por exemplo, o fornecimento de insumos em uma determinada região ou simplesmente para garantir algum serviço que não é interessante do ponto de vista comercial para empresas.
Quais os tipos de cooperativas existentes?
Uma mudança em 2019 modificou os ramos das cooperativas no Brasil e no mundo. Com isso, as cooperativas passaram a ser agrupadas em:
- Cooperativas Agropecuárias;
- Cooperativas de Consumo;
- Cooperativas de Crédito;
- Cooperativas de Infraestrutura;
- Cooperativas de Saúde;
- Cooperativas de Trabalho, Produção de Bens e Serviços;
- Cooperativas de Transporte.
O que é importante saber antes de se tornar um cooperado?
O especialista também orientou sobre o que analisar antes de entrar para uma cooperativa. Ele preparou um passo a passo do que precisa ser visto.
1º passo
A primeira medida é entender como funciona o modelo de negócio. Isso porque essa modalidade traz benefícios, mas também responsabilidades, como uma participação ativa na cooperativa. Além disso, também é preciso entender que muitas vezes os anseios pessoais não poderão ser atendidos, porque o foco está no coletivo.
2º passo
Depois disso, o produtor precisa analisar qual o tipo de atividade agropecuária desenvolvida por ele e se estão enquadradas nas aptidões das cooperativas. Por exemplo, uma cooperativa de citros pode não ser adequada para pecuaristas. Apesar disso, Prieto lembra que existem cooperativas que têm núcleos diferentes da atividade principal realizada pela maioria dos cooperados.
3º passo
Depois desse alinhamento, o indicado é buscar efetivamente a cooperativa e entender o que está previsto no estatuto. Esse documento traz as bases de cada organização coletiva, como o que é preciso para integralizar a cota de participação na cooperativa e os compromissos com o modelo.
A cota de participação é um valor pago à cooperativa para que o cooperado possa fazer parte do grupo. Cada cooperativa determina o valor máximo e o mínimo que pode ser integralizado. Esse recurso é somado ao capital social da cooperativa, assim como nas empresas. Quando o cooperado resolve sair, ele recebe o valor da cota de forma atualizada.